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Rabobank Agroinfo Setembro 2025Pesquisa
Câmbio
Vemos o dólar a R$ 5,75 no fim de 2025. A política comercial americana e diferencial de juros apreciam o real no curto prazo. Mas, riscos geopolíticos e fiscal podem fazer o real voltar a se depreciar.

Tarifas
Alívio para uns, incerteza para outros
Depois de anunciar, no dia 9 de julho, uma tarifa de importação de 50% (composta por uma tarifa base de 10% e uma tarifa adicional de 40%) para importações do Brasil, o governo americano divulgou, no dia 30 de julho, uma lista extensa de produtos que seriam isentos da tarifa adicional de 40%.
Entre os produtos do agronegócio isentos da tarifa adicional estão suco de laranja e celulose. Mas, outros produtos relevantes no fluxo de comércio internacional do Brasil para os EUA, como café, carne bovina e açúcar, não foram incluídos na isenção e passaram a estar sujeitos à tarifa de 50% a partir do dia 6 de agosto.
O raciocínio por trás da seleção de alguns setores e produtos para isenção e manter a tarifa alta para outros, não é claro. Nos casos de suco de laranja e de celulose, pode ser argumentado que a dependência dos EUA das importações brasileiras é relevante, mas a mesma lógica se aplica ao caso de café, que permanece com tarifa de 50%.
Embora a substituição completa do café brasileiro seja improvável, a competitividade do Brasil foi significativamente afetada pela medida.
Como estratégia de curto prazo, a indústria americana de café deve, no primeiro lugar consumir os estoques atuais. Também pode explorar o uso de armazéns alfandegados, onde o café pode ser armazenado sem pagamento imediato de tarifas, na esperança de uma mudança favorável da situação.
No caso de carne bovina, a dinâmica tem sido diferente - mesmo com a imposição de tarifas adicionais pelos EUA a partir de 6 de agosto, os embarques se mantiveram fortes até a quarta semana do mês, com aumento de 35% nos embarques diários e 70% no faturamento, no comparativo anual. A expectativa é que, mesmo com uma queda de até 50% nos embarques a partir de setembro, o volume total exportado aos EUA em 2025 ainda registre alta de 15% em relação a 2024, chegando a 263 mil toneladas.
Para açúcar, olhando para a totalidade das exportações brasileiras, os EUA representam só uma pequena fatia do bolo. Porém, é um mercado bem relevante para as exportações do Brasil de açúcar orgânico, que serão prejudicadas pela tarifa de 50%. Ainda assim, pelo menos no curto prazo, parece impossível para a oferta de açúcar orgânico de outros exportadores substituir 100% do produto brasileiro no mercado americano – simplesmente não tem produção suficiente fora do Brasil para isso acontecer.
Pontos de Atenção
Câmbio
Tarifa e fiscal preocupam, juros e dólar global aliviam
Os acordos comerciais dos EUA com o Japão e a UE sugerem um cenário de guerra comercial mais benigno, levando a um menor aumento na inflação e menos danos econômicos do que o previsto anteriormente, reduzindo a probabilidade de uma recessão nos EUA. Embora o impacto das tarifas na inflação permaneça incerto, o Fed enfrenta um choque estagflacionário menos severo, potencialmente aliviando a paralisia política e levando a cortes de juros em setembro, com um ciclo de cortes mais agressivo previsto para o próximo ano à medida que os diretores indicados por Trump ganham influência. Por enquanto, o cenário global não favorece a moeda norte-americana. O dólar perdeu quase 10% contra moedas desenvolvidas desde o início do ano.
O cenário externo continua instável, com tarifas dos EUA prejudicando exportações e PIB brasileiro. Internamente, os dados recentes mostram desaceleração econômica, com crédito apertado e aumento da inadimplência, enquanto o mercado de trabalho se mantém firme, com desemprego em 5,8%. No 2S25, há risco de desaceleração adicional devido às tarifas e desafios políticos, mas os pagamentos de precatórios e aumento de empréstimos consignados podem estimular o consumo das famílias. Projetamos crescimento do PIB de 2,0% em 2025 e 1,3% em 2026.
O IPCA mostra sinais de moderação, passando de 5,4% a/a em junho para 5,2% a/a em julho. Apesar da melhora, o índice ainda está muito acima do teto da meta. A política fiscal mantém-se compatível com a meta de 2025, mas ainda preocupa. O governo lançou um plano de contingência para enfrentar o impacto do tarifaço de 50%, estimando um efeito de R$ 9,5 bilhões nas contas fiscais primárias até 2026.
Na reunião de julho, o Copom decidiu unanimemente manter a taxa Selic em 15,00% a/a, justificando a decisão com base nas incertezas externas e domésticas, como as tarifas comerciais e sinais mistos dos indicadores econômicos, como crédito apertando e mercado de trabalho ainda aquecido. Acreditamos que o BCB só irá começar a cortar os juros no 2T26.
O anúncio das exceções tarifárias trouxe alívio ao mercado, favorecendo o real devido ao enfraquecimento global do dólar e ao diferencial de juros domésticos. Embora as tarifas reduzam o saldo comercial, o impacto deve ser limitado. No médio prazo, fatores como dúvidas sobre o crescimento global, riscos geopolíticos e incertezas fiscais devem impactar moedas emergentes, elevando o prêmio de risco. Com isso, projetamos o dólar a R$ 5,75 ao fim de 2025.
Pontos de Atenção
Vemos o dólar voltando a 5,75 em 2025
Projeção do dólar (USD/BRL)
