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Celulose - Perspectivas 2026

17 outubro 2025 18:02 RaboResearch

Margens comprimidas no setor global de celulose, com impactos de preço e taxas de câmbio por dólar mais fraco, devem acelerar os cortes de produção em varias regiões do mundo e permitir algumas altas adicionais de preços na celulose de fibra curta no final de 2025. Porém, os preços globais de celulose devem ter uma recuperação mais consistente apenas em 2027, com pressão de oferta elevada e demanda crescendo abaixo do esperado em várias regiões, limitando altas mais consistentes em 2026.

Intro

Margens sob pressão devem limitar oferta global

Os preços globais de celulose entraram em trajetória de queda a partir de meados de 2024, após atingirem USD 745/ton (BHKP) na China em julho daquele ano, recuando para menos de USD 500/ton em meados de 2025. A entrada de novas plantas de celulose de mercado na América do Sul e de celulose integrada na China aumentou a oferta nos principais mercados. Ao mesmo tempo, a demanda não conseguiu absorver rapidamente esse acréscimo de capacidade, resultando em elevação dos estoques globais e queda nos preços.

No entanto, no final de 2025, os preços começam a dar sinais de recuperação gradativa. Margens pressionadas têm acelerado cortes não programados de produção em diversas regiões, o que deve contribuir para reequilibrar o mercado global nos próximos meses. Dados do PPPC (Pulp and Paper Products Council) indicam que os estoques globais de celulose de fibra curta caíram para 43 dias equivalentes em agosto de 2025, ante 55 dias em meados de 2024. O nível de 40 dias é considerado próximo ao equilíbrio, o que sugere que a disponibilidade atual está se aproximando desse patamar.

As projeções para o quarto trimestre de 2025 apontam para um mercado pelo menos equilibrado, com tendência de estoques globais em queda leve. Nesse contexto, as recentes altas de preços em várias regiões começam a se consolidar, com a celulose de fibra curta se aproximando de USD 550/ton na China em outubro de 2025. Vale destacar que, por enquanto, essas altas têm sido sustentadas principalmente pela recuperação sazonal da demanda. Os cortes de produção ainda não atingiram níveis significativos, especialmente quando comparados aos dados de 2024. Dados da Fastmarkets indicam que os cortes de produção nos primeiros oito meses de 2025, totalizaram 1,1 milhão de toneladas, comparado com 1,5 milhão de toneladas para o ano de 2024 como um todo.

É provável que haja uma aceleração nos cortes de produção no final de 2025 e início de 2026. Cerca de 10% dos produtores globais de celulose operam atualmente com margens negativas, o que deve incentivar a redução da produção no curto prazo. Em outubro, a UPM (Finlândia) e a Fiber Excellence (França) anunciaram novos cortes de produção, que se somam aos cortes anunciados pela Suzano em agosto (450 mil toneladas até julho de 2026).

Apesar da volatilidade geopolítica em 2025, o setor de celulose não sofreu impactos tão significativos comparado com outros setores do agronegócio brasileiro. Após a imposição de tarifas de importação no “Liberation Day” (2 de abril), os EUA decidiram eliminar, no final de setembro, as tarifas sobre a celulose brasileira. Outros produtos florestais, como papel, painéis de madeira e móveis, continuam sujeitos a tarifas entre 40% e 50%.

Vale lembrar que o Brasil é o principal exportador de celulose de fibra curta para os EUA, com 80% de participação no último ano, reforçando seu papel estratégico no comércio bilateral. O Brasil se beneficia de bom acesso logístico aos portos da costa Sul e costa Leste dos EUA, sem necessidade de passar pelo Canal do Panamá. Os portos da Costa Leste dos EUA estão passando por investimentos relevantes em expansões de terminais, capacidade de armazéns e conectividade ferroviária, melhorando a movimentação de cargas e reduzindo os riscos de congestionamento.

O diferencial de preços entre celulose de fibra longa e curta (BSKP e BHKP) aumentou ao longo de 2025. Nos EUA, a diferença superou USD 270/ton em maio, enquanto a média dos últimos cinco anos foi de USD 115/ton. Esse movimento deve sustentar a demanda por celulose de fibra curta no final de 2025 e início de 2026.

Olhando para frente, parece pouco provável uma recuperação sustentável dos preços da celulose já em 2026. O mercado ainda enfrenta dificuldades para absorver a capacidade adicional das novas plantas inauguradas na América do Sul em 2023 e 2024, além do impacto do aumento da celulose integrada na China, que deve acrescentar cerca de 5 milhões de toneladas de BHKP entre 2024 e 2027. Somado a isso, a APP, na Indonésia, deve iniciar mais uma linha de produção de 1,4 milhão de toneladas de celulose de fibra curta em 2026.

Do lado da demanda, o movimento sazonal de maior consumo de papel no final de 2025 deve contribuir para sustentar as compras de celulose nos principais mercados. No entanto, o cenário macroeconômico global segue em tendência de desaceleração, com sinais de enfraquecimento nos mercados de trabalho dos EUA e da Europa. Parece provável esperar que os preços de papel continuem sob pressão na China pelo excesso de capacidade adicionada nos últimos dois anos. Assim, a demanda por celulose e produtos de papel em 2026 deve apresentar apenas crescimento moderado, insuficiente para garantir uma recuperação significativa dos preços.

Vale destacar que cortes de produção e a saída de capacidade de alto custo podem se intensificar além do esperado no mercado global de celulose em 2026. As margens operacionais têm caído não apenas pelos baixos preços nominais, mas também pelo enfraquecimento do dólar frente às principais moedas em relação aos níveis de janeiro de 2025.

Apesar do cenário de preços mais baixos, o Brasil deve registrar mais um ano recorde de produção e exportações em 2025 e 2026. Em 2025, as exportações já devem superar 20 milhões de toneladas, com novo recorde esperado para o próximo ano. O país deve continuar avançando na diversificação dos destinos, com destaque para o crescimento nos EUA, impulsionado pela maior competitividade da celulose de fibra curta, o que ajuda a compensar a menor expansão da demanda na China.

A oferta no Brasil continuará em expansão, com novos projetos planejados e executados no médio prazo (2027 a 2029), especialmente no Mato Grosso do Sul (Arauco e Bracell) e no Rio Grande do Sul (CMPC). No mercado doméstico, o consumo de papelão ondulado deve encerrar 2025 em patamar próximo ao de 2024 (4,2 milhões de toneladas), refletindo menor crescimento no varejo devido à inflação elevada, parcialmente compensado pelo aumento das exportações de proteína animal. Para 2026, espera-se um cenário semelhante: estabilidade no varejo interno (impactado por juros altos e menor crescimento econômico) e alta de 2% a 3% nas exportações de proteína animal, sustentada pela forte demanda por carne bovina e suína do Brasil.

No mercado de papel, a produção no Brasil deve fechar 2025 com queda de 1%, afetada pela demanda interna fraca e pelas tarifas dos EUA. Para 2026, o cenário tende a permanecer cauteloso, com crescimento gradual, refletindo o menor dinamismo da economia brasileira.

Pontos de Atenção:

    As incertezas sobre o EUDR continuam após um anuncio de novo adiamento de 12 meses em setembro ter causado resistência por parte de parlamentares e empresas europeias. Espera-se alguma definição sobre o assunto até o final de 2025. De qualquer forma, o setor de papel e celulose no Brasil está bem preparado para enfrentar as mudanças na normativa da UE.

    A procura por madeira deve continuar acirrada em 2026 com novos projetos no horizonte para 2027 no Brasil, o que pode levar a novos aumentos no preço da madeira em regiões estratégicas.

Preços internacionais BHKP

Fig 49
Fonte: Risi Fastmarkets; Indústria Brasileira de Árvores; ABPO; Rabobank

Exportações brasileiras de celulose

Fig 50
Fonte: Risi Fastmarkets; Indústria Brasileira de Árvores; ABPO; Rabobank

Vendas mensais de papelão ondulado no Brasil

Fig 51
Fonte: Risi Fastmarkets; Indústria Brasileira de Árvores; ABPO; Rabobank

Desempenho da indústria do papel no Brasil

Fig 52
Fonte: Risi Fastmarkets; Indústria Brasileira de Árvores; ABPO; Rabobank

Disclaimer

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