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Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026Pesquisa
Soja - Perspectivas 2026
Para o ciclo 2025/26, mesmo diante de elevadas taxas de juros, que continuam pressionando o fluxo de caixa dos produtores, muitos ainda altamente alavancados, o RaboResearch projeta um crescimento de 2% na área plantada de soja. Embora represente uma expansão, esse ritmo é inferior à média dos últimos 15 anos, de aproximadamente 4% ao ano. As exportações brasileiras devem manter os volumes recordes de 2024, com estimativa de 111 milhões de toneladas. No entanto, um eventual acordo comercial entre Estados Unidos e China pode reduzir a demanda pela soja brasileira e pressionar os prêmios nos portos nacionais, o que poderia resultar em preços internos menos favoráveis ao produtor no Brasil.

Geopolítica definirá prêmios de soja em 2025/26
A safra brasileira de soja 2024/25 foi marcada por uma série de recordes. Além da expansão da área cultivada, a produtividade atingiu níveis históricos, resultando em uma produção total estimada em 172 milhões de toneladas, segundo o RaboResearch.
Além disso, também são esperados novos recordes nas exportações e no esmagamento da oleaginosa. As exportações devem alcançar 111 milhões de toneladas, um avanço de 10 milhões de toneladas em relação ao recorde anterior, registrado em 2023. Esse crescimento foi impulsionado, em parte, pela intensificação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que levou o país asiático a redirecionar suas compras para a América do Sul. Com a ausência de compras chinesas da soja norte-americana no início do ciclo 2025/26 (setembro/25 a agosto/26), as exportações brasileiras devem se manter firmes até o final de 2025.
No mercado doméstico, o esmagamento de soja deve atingir 58 milhões de toneladas em 2025, um incremento de 3 milhões de toneladas em relação a 2024. Esse avanço está associado, em parte, à elevação da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel para 15%, implementada em agosto de 2025. Apesar da elevada oferta interna, os prêmios de exportação permaneceram elevados, sustentados pela demanda chinesa, o que contribuiu para a valorização da soja no mercado brasileiro.
Entre janeiro e outubro de 2025, os preços da soja na CBOT registraram queda de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os preços em Mato Grosso recuaram apenas 1%, reflexo da sustentação dos prêmios e da desvalorização cambial observada no primeiro semestre de 2025. Como resultado, os estoques de passagem ao final da safra 2024/25 devem se manter em níveis relativamente baixos.
Para o ciclo 2025/26, mesmo diante de elevadas taxas de juros, que continuam pressionando o fluxo de caixa dos produtores, muitos ainda altamente alavancados, o RaboResearch projeta um crescimento de 2% na área plantada de soja. Embora represente uma expansão, esse ritmo é inferior à média dos últimos 15 anos, de aproximadamente 4% ao ano. Mantida a tendência atual de produtividade, a produção poderá atingir um novo recorde de 177 milhões de toneladas. As condições climáticas e operacionais para o avanço do plantio seguem, até o momento, acima da média dos últimos cinco anos, reforçando as perspectivas positivas para a próxima safra.
As exportações brasileiras devem manter os volumes recordes de 2024, com estimativa de 111 milhões de toneladas. No entanto, um eventual acordo comercial entre Estados Unidos e China pode reduzir a demanda pela soja brasileira e pressionar os prêmios nos portos nacionais, o que poderia resultar em preços internos menos favoráveis ao produtor no Brasil.
No processamento, o Rabobank projeta um aumento de 2 milhões de toneladas no esmagamento, totalizando 60 milhões de toneladas em 2025/26. Esse crescimento é impulsionado pela expectativa de elevação da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel para 16%, conforme previsto na lei do “Combustível do Futuro”.
Contudo, persistem incertezas quanto à implementação da medida em março de 2026, o que pode limitar o ritmo de crescimento do processamento. A elevação da mistura de biodiesel deverá impulsionar a demanda por óleo de soja, favorecendo as margens de esmagamento. Em contrapartida, a produção de farelo de soja tende a superar a demanda esperada, tanto no mercado interno quanto no externo, o que deverá pressionar negativamente as margens do setor.
A partir dessas projeções, espera-se uma leve recomposição dos estoques de soja no Brasil até o final de dezembro de 2026, o que poderá contribuir para maior estabilidade no mercado interno, mesmo diante de um cenário externo incerto.
No mercado internacional, o USDA projeta um crescimento de 5% nas importações chinesas de soja, totalizando 112 milhões de toneladas em 2025/26. O Brasil segue consolidando sua posição como principal fornecedor de soja para a China. Mesmo diante da possibilidade de um acordo comercial entre Washington e Pequim, o Rabobank avalia que o Brasil continuará liderando as exportações para o mercado chinês.
Até o momento, a China já adquiriu cerca de 30% do volume esperado para a safra 2025/26, patamar semelhante ao observado no mesmo período do ciclo anterior. Por outro lado, segundo o IMEA, a comercialização da soja 2025/26 em Mato Grosso está em 32%, levemente abaixo do registrado em outubro de 2024 e 7 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos.
Esse comportamento pode refletir uma postura mais cautelosa, ou até mesmo otimista, por parte dos produtores, que parecem desconsiderar, por ora, o risco de uma eventual normalização das relações comerciais entre Estados Unidos e China. As exportações norte-americanas se concentram entre setembro e janeiro; ou seja, caso um acordo seja firmado, a soja dos EUA enfrentará forte concorrência da soja brasileira.
Nos Estados Unidos, as projeções do USDA ainda indicam exportações em torno de 50 milhões de toneladas, o que, em um cenário de continuidade das restrições comerciais com a China, sustentaria um quadro de estoques apertados. No entanto, caso as exportações norte-americanas para o mercado chinês não se concretizem, os estoques finais dos EUA em 2025/26 poderão ser revisados para cima, o que tende a pressionar negativamente as cotações na CBOT. Nesse contexto, parte dessa pressão poderia ser compensada por um fortalecimento dos prêmios no Brasil, especialmente se a demanda chinesa continuar concentrada na América do Sul.
Apesar da possibilidade de redução de área plantada nos Estados Unidos e na Argentina, dois dos três maiores produtores globais, ainda se projeta um leve crescimento da oferta mundial de soja. Assim, pelo quarto ano consecutivo, espera-se uma nova recomposição dos estoques globais ao final do ciclo 2025/26.
Excluindo os fatores geopolíticos e as atuais tarifas entre Estados Unidos e China, os fundamentos do mercado da oleaginosa, como a recomposição dos estoques globais e a contínua expansão da área plantada no Brasil, apontariam para um cenário estruturalmente baixista. No entanto, a manutenção das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo pode seguir favorecendo o mercado brasileiro, por meio de uma demanda externa robusta e prêmios de exportação mais elevados.
Pontos de Atenção:
Durante o primeiro mês da safra 2025/26, as inspeções norte-americanas indicaram uma redução de 45% no volume de soja embarcado pelos EUA, em comparação com o mesmo período da temporada anterior.
A isenção das “retenciones” para a exportação argentina, favoreceu a competitividade do grão. Com isso, é esperado um aumento das exportações de soja em 2024/25 que deverá ultrapassar 12 milhões de toneladas, um aumento de 200% em comparação à safra passada.
Oferta/demanda global de soja

Área e produção de soja no Brasil

Exportações e esmagamento de soja no Brasil

Preço de soja no Mato Grosso vs. CBOT

Baixe o relatório em PDF: Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026












