Índice
Este artigo faz parte de:
Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026Pesquisa
Cana, Açúcar e Etanol - Perspectivas 2026
Com um plantio maior no 1° trimestre de 2025 e um clima mais ameno ao longo de 2025 em comparação com 2024, a safra 2026/27 no centro-sul tem chance de ser maior que a safra 2025/26, se o verão for normal. O preço internacional de açúcar caiu ao longo do 2025, dada a transição do balanço global de déficit para excedente, enquanto os fundos construíram uma grande posição líquida vendida no mercado. O preço de etanol em 2025 se mostrou firme dada a moagem menor e um mix altamente açucareiro. Se a safra 2026/27 for grande, as usinas vão enfrentar um dilema de mix. Um mix açucareiro poderia pressionar ainda mais o preço de açúcar. Mas, com crescimento adicional de etanol de milho garantido, se o setor de cana mudar muito para etanol, arriscaria derrubar o preço do combustível.

O dilema do mix
Depois de uma série de anos bons para a receita e margem do setor de açúcar e etanol, os sinais de uma virada do ciclo ficaram cada vez mais evidentes ao longo de 2025. Esses sinais formam o pano de fundo para as perspectivas para 2026.
A safra 2025/26 no centro-sul é prevista pelo RaboResearch para encerrar em 590 milhões de toneladas. A qualidade decepcionante da cana junto com um mix recorde de açúcar gera uma produção projetada de açúcar do centro-sul em 2025/26 de 39,7 milhões de toneladas, quase igual à produção da safra anterior. Em contraste, a produção de etanol de cana é projetada em 23,0 bilhões de litros, uma queda de 14%, ou 3,8 bilhões de litros, em comparação com 2024/25.
A produtividade nos canaviais em 2025/26 sofreu por causa do clima seco e dos incêndios que marcaram 2024. O clima em 2025 tem sido mais ameno, mas, como sempre, as condições climáticas do verão serão um determinante crucial da moagem em 2026/27. Até agora, parece haver um consenso geral de que existe o potencial para uma safra grande (620 milhões de toneladas ou mais). Um amplo plantio de cana de 18 meses no 1° trimestre de 2025 aponta que tanto a área a ser colhida quanto a produtividade média em 2026/27 poderiam superar 2025/26, sob premissa de um verão normal.
Qual será o mix adotado pelas usinas para 2026/27? Isso mostra potencial para ser a maior dor de cabeça que 2026 poderia trazer para o setor, em função das trajetórias dos mercados de açúcar e etanol e do possível tamanho da safra.
O mix da safra 2025/26 foi altamente açucareiro. O preço de açúcar bruto de Nova Iorque caiu 18% em USD e 29% em BRL entre 1º janeiro e 24 outubro, mas uma boa parte da fixação do preço das vendas foi feita com bastante antecedência, com preços e câmbio mais atrativos.
O que provocou a queda do preço do açúcar ao longo de 2025? Em primeiro lugar, o balanço global de açúcar está transitando de um déficit global no ano-safra internacional (out-set) 2024/25, estimada pelo RaboResearch em 4,2 milhões de toneladas, para um excedente global em 2025/26, projetado em 2,6 milhões de toneladas. De longe a maior contribuição à virada é esperada da Índia, prevista para produzir 31 milhões de toneladas de açúcar em 2025/26, 5 milhões a mais do que na safra anterior. O país chacoalhou o mercado em outubro, quando as petroleiras indianas sinalizaram a intenção de comprar menos etanol do setor de cana do que inicialmente esperado, sugerindo um aumento proporcional no volume de açúcar disponível para exportação. Porém, a incerteza sobre o volume e o timing dessas exportações poderiam durar até 1º trimestre de 2026.
A Tailândia também é projetada para aumentar em 1,0 a 1,5 milhão de toneladas a sua produção em 2025/26. Olhando à frente, a disponibilidade global de açúcar para exportação deve subir mais no 2° trimestre de 2026, com o início da nova safra no Centro-Sul do Brasil. Em resumo, as expectativas de uma virada do balanço global de déficit para excedente e uma maior disponibilidade para exportações explicam parte da trajetória dos preços em 2025.
Em segundo lugar, a pressão sobre o preço do açúcar vinda do quadro fundamental tem sido agravado pelo posicionamento dos fundos. Ao longo do segundo semestre do ano, eles acumularam uma posição líquida vendida relevante, chegando, em setembro de 2025, no seu maior nível em seis anos, representando um peso adicional na cotação do açúcar. Embora uma reversão dessas posições possa impulsionar os preços, o volume de fixações ainda pendentes no Brasil e na Tailândia pode limitar o espaço para ganhos.
Com a curva de futuros de Nova Iorque lutando para se manter acima dos US¢ 15/lp, a safra 2026/27 poderia ser mais alcooleira que as safras anteriores. De fato, os preços de etanol se mantiveram firmes em 2025, apesar da expansão contínua de produção de etanol de milho. Isso porque o balanço entre oferta total e demanda no mercado doméstico apertou, com a produção de etanol no Centro-Sul 3,8 bilhões de litros abaixo da safra 2024/25, devido à moagem menor e um alto mix de açúcar.
Além disso, em agosto de 2025, o governo elevou a mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina de 27% para 30%. Assim, para etanol, parece que 2026/27 deve começar com estoques baixos e preços firmes.
Mas o mercado de etanol enfrenta possíveis complicações na reta final de 2025 e em 2026. Em primeiro lugar, em outubro 2025, a Petrobras reduziu em 4,9% o preço ex-refinaria da gasolina, ato amplamente esperado, dada a queda do preço internacional do petróleo e o enfraquecimento do USD frente ao BRL. Com o preço Brent de petróleo projetado abaixo dos USD 60/barril em 2026, o ano novo poderia trazer mais ajustes que, na bomba, impactariam a competitividade do etanol.
Em segundo lugar, dependendo do tamanho da safra 2026/27, reduzir o mix de açúcar para para evitar queda no preço internacional pode acabar prejudicando o preço de etanol. Quanto maior a moagem no Centro-Sul em 2026/27, maior o dilema do mix para as usinas.
O RaboResearch projeta que a oferta de etanol de milho em 2026/27 poderia ser 1,5 a 2,0 bilhões de litros acima dos 9,5 bilhões estimados para 2025/26. Com uma moagem de 600 milhões de toneladas e mix de açúcar de 50%, o etanol de cana no Centro-Sul pode atingir 24,3 bilhões de litros, um aumento de 1,3 bilhão em relação a 2025/26. Mantendo a produção do Nordeste estável, o aumento da oferta nacional seria ao redor de 9% em 2026/27. Se a moagem for de 640 milhões de toneladas, com mix de açúcar de 50%, isso significaria alta de até 14,0% na oferta nacional de etanol.
Para calibrar o impacto desses cenários no mercado, vale lembrar que o consumo de combustível de ciclo Otto geralmente cresce cerca de 2% por ano. E que um aumento de 14,8% na oferta nacional de etanol em 2023/24 provocou uma queda do preço médio (ESALQ hidratado SP, sem impostos) de 20% em comparação com 2022/23.
Os anos recentes têm sido bons para o setor de cana. Muitas empresas reduziram sua alavancagem, investiram em flexibilidade (capacidade de cristalização, armazéns de açúcar), produtividade (plantio, irrigação) e diversificação (biometano), o que fortaleceu sua capacidade de enfrentar uma virada de ciclo. Embora já haja indícios dessa virada em 2025, sua confirmação em 2026 depende do clima e das safras em outros países. Mas, visto do final de 2025, com uma queda no preço do açúcar, juros elevados e perspectiva de uma nova safra grande, uma luz amarela está acesa.
Pontos de Atenção:
O impacto da queda no preço de açúcar em 2025 na receita das usinas em 2025/26 deveria ser suavizado pela fixação de preços antecipada. Mas o ATR baixo por tonelada de cana sinaliza aumento de custos, enquanto juros altos consomem caixa. Os resultados para a safra 2025/26 deveriam mostrar margens mais estreitas em comparação com safras recentes.
Com os estoques de etanol projetados para estar muito baixos até março de 2026, e com preços firmes como consequência, não seria surpresa ver a nova safra começar ainda em março, caso o clima permita, para que as usinas aproveitem o preço elevado do etanol.
Balanço global de açúcar

Preços de equivalência: açúcar e etanol

Variação anual da produção nacional de etanol

Cenários: açúcar e etanol, centro-sul, 26/27

Baixe o relatório em PDF: Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026












