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Algodão - Perspectivas 2026

17 outubro 2025 18:02 RaboResearch

Para a safra 2025/26, o RaboResearch projeta uma nova expansão da área destinada ao cultivo de algodão, que deve ultrapassar 2,1 milhões de hectares — o maior nível observado em 37 anos. Apesar do avanço, o crescimento será mais moderado, com alta estimada em cerca de 2,5% em relação à safra anterior. No mercado interno, os preços da pluma no Mato Grosso registraram queda pelo quinto mês consecutivo, pressionados pelo avanço da colheita da safra 2024/25 e pelo desempenho ainda aquém do esperado das exportações acumuladas entre agosto e setembro, em comparação ao mesmo período do ano anterior. O atual cenário de preços também não vem favorecendo a evolução da comercialização da pluma para a safra 2025/26. De acordo com o Imea, a comercialização da safra está em 30%, em linha com o ano passado, porém 13 pontos percentuais abaixo da média histórica.

Intro

Brasil avança como líder na produção e exportação da pluma

O Brasil continua a consolidar sua posição como uma das principais potências globais na produção e exportação de algodão. Na safra 2023/24, o país alcançou um marco histórico ao colher 3,7 milhões de toneladas de pluma, o maior volume já registrado. Esse desempenho sustentou exportações igualmente robustas, totalizando 2,8 milhões de toneladas entre agosto de 2024 e julho de 2025, estabelecendo um novo patamar para o comércio exterior da fibra brasileira. Em fevereiro de 2025, os embarques somaram 275 mil toneladas, o maior volume mensal já registrado.

A safra 2024/25 confirmou um novo recorde de produção, superando as expectativas pelo terceiro ano consecutivo e atingiu 4,1 milhões de toneladas. Esse avanço foi impulsionado por uma expansão de área superior a 7% e por condições climáticas favoráveis ao longo do ciclo produtivo. O resultado é ainda mais expressivo considerando que, diferentemente de outros grandes produtores como Austrália e Estados Unidos, a produção brasileira é majoritariamente realizada em áreas de sequeiro, com uso mínimo de irrigação, evidenciando a eficiência e resiliência do setor.

Apesar de todas as incertezas ocasionadas pelo contexto geopolítico desde o início de 2025, os preços da pluma na bolsa de Nova York apresentaram baixa volatilidade. A combinação de um ambiente macroeconômico enfraquecido, relativa instabilidade geopolítica e o aumento da oferta brasileira trouxe maior conforto aos estoques globais, beneficiando os consumidores da fibra. Em outubro, os preços internacionais recuaram pouco mais de 2%, refletindo essa conjuntura de mercado.

No mercado interno, os preços da pluma no Mato Grosso registraram queda pelo quinto mês consecutivo, pressionados pelo avanço da colheita da safra 2024/25 e pelo desempenho ainda aquém do esperado das exportações acumuladas entre agosto e setembro, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Apesar da retração de 9% nas exportações acumuladas nos dois primeiros meses da nova safra, o Brasil ainda tem potencial para atingir um novo recorde de 3 milhões de toneladas exportadas. Nesse cenário de crescimento, o país se consolida como o maior exportador global de pluma, enquanto os Estados Unidos vêm perdendo participação no mercado internacional. Em 2018, os EUA respondiam por 39% das exportações mundiais, enquanto o Brasil representava apenas 10%. Para a safra 2025/26, a expectativa é que o Brasil alcance 31% de participação, superando os Estados Unidos, que devem responder por até 28%. Além disso, as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump a alguns países importadores afetaram a competitividade da fibra norte-americana, favorecendo as exportações brasileiras.

Em relação ao consumo doméstico brasileiro, não são esperadas variações significativas na demanda. A crescente produção, a melhora na qualidade da fibra e a competitividade brasileira devem continuar impulsionando o desempenho das exportações. Segundo o Imea, a comercialização da pluma referente à safra 2024/25 alcançou 70%, cerca de 10 pontos percentuais abaixo do registrado no ano anterior. A queda persistente nos preços tem desestimulado os produtores a realizarem novas vendas.

Para a safra 2025/26, o RaboResearch projeta uma nova expansão da área destinada ao cultivo de algodão, que deve ultrapassar 2,1 milhões de hectares, o maior nível observado em 37 anos. Apesar do avanço, o crescimento será mais moderado, com alta estimada em cerca de 2,5% em relação à safra anterior.

Nos últimos quatro anos, por exemplo, a área cultivada com algodão cresceu, em média, 11% ao ano. Por um lado, o atual contexto macroeconômico, marcado por sinais de desaceleração da atividade global e, no Brasil, pela elevação das taxas de juros, tende a estimular uma postura mais cautelosa por parte dos produtores, especialmente em relação a investimentos mais intensivos, como ampliação de área, aumento da capacidade de beneficiamento e melhorias da infraestrutura.

Por outro lado, os investimentos significativos realizados nos últimos anos, incluindo aquisição de máquinas agrícolas, expansão da capacidade industrial e aumento da área cultivada, reduzem a flexibilidade dos produtores para migrar para outras culturas, limitando a margem de manobra no curto prazo e contribuindo para a manutenção da área dedicada ao algodão.

Considerando a tendência atual de produtividade, a produção da safra 2025/26 deverá atingir cerca de 4,0 milhões de toneladas, ligeiramente abaixo do ciclo anterior.

Na safra passada, as condições climáticas favoreceram produtividades excepcionais, especialmente no Mato Grosso, estado responsável por cerca de 70% da produção nacional de pluma.

O atual cenário de preços também não vem favorecendo a evolução da comercialização da pluma para a safra 2025/26. De acordo com o Imea, a comercialização da safra está em 30%, em linha com o ano passado, porém 13 pontos percentuais abaixo da média histórica.

No âmbito global, é esperada uma leve retração da produção de pluma. No entanto, o maior produtor e consumidor, a China, deverá colher uma safra maior, o que pode restringir as importações. De forma consistente, o Brasil tem ampliado sua relevância tanto na produção quanto na exportação de algodão. Ainda assim, o consumo global da fibra permanece estável há pelo menos uma década.

Segundo o USDA, o consumo mundial deverá atingir 25 milhões de toneladas na safra 2025/26, sem variação em relação ao ciclo anterior. Com o Brasil ampliando sua participação nas exportações globais, o equilíbrio entre oferta e demanda continuará sendo um fator-chave para a formação de preços. Diante deste contexto, não se espera uma recuperação significativa dos preços da pluma nos próximos meses.

Pontos de Atenção:

    Segundo o Imea, a valorização de mais de 40% no preço do caroço de algodão em um ano reflete um cenário de oferta restrita e demanda aquecida. Esse movimento pode estar associado à crescente competitividade do caroço como insumo na formulação de rações, especialmente diante da busca por alternativas mais econômicas em confinamentos.

    Os preços do petróleo apresentaram uma queda de 15% em outubro de 2025, quando comparados aos valores de outubro de 2024. Somente no último mês, os preços recuaram 5%. Esse fator também tem limitado a valorização da fibra natural, diante da concorrência com a fibra sintética.

Oferta/demanda global de algodão

Fig 25
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, Rabobank

Área e produção (pluma) de algodão no Brasil

Fig 26
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, Rabobank

Comercialização do algodão pluma - MT

Fig 27
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, Rabobank

Preço da pluma em MT vs. NY

Fig 28
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, Rabobank

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As informações e opiniões contidas neste documento são meramente indicativas e apenas para fins de discussão. Quaisquer transações descritas e/ou ideias comerciais contidas neste documento não poderão resultar em nenhum direito. Este documento é apenas para fins informativos e não constitui, nem deve ser interpretado como, uma oferta, convite ou recomendação. Ver mais