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Suco de Laranja - Perspectivas 2026

17 outubro 2025 18:02 RaboResearch

Com a oferta em crescimento e a demanda retraída pelos altos preços no varejo, a recuperação dos estoques globais deve ganhar relevância ao final da safra 2025/26. O balanço global entre oferta e demanda, projetado com superávit de 250 mil toneladas equivalentes de FCOJ, está sustentado principalmente pela retomada da produção no Brasil durante esta safra. Nesse contexto, os preços do suco devem permanecer sob pressão, enquanto o mercado aguarda as primeiras indicações da safra 2026/27, que serão fundamentais para avaliar se a recomposição dos estoques poderá se estender por mais um ciclo.

Intro

Recuperação da oferta pressiona preços com demanda fraca

A produção de laranja no cinturão citrícola deve encerrar a safra 2025/26 em 295 milhões de caixas de 40,8 kg, uma recuperação expressiva de 28% em relação à safra 2024/25. Chuvas reduzidas e ventos fortes em setembro e outubro devem levar a safra para esse nível, levemente menor do patamar esperado no terceiro trimestre (306 milhões de caixas). Apesar dos desafios persistentes, como o avanço do greening, a volatilidade climática, a escassez de mão de obra e o aumento de custos, esta safra provavelmente será lembrada como relativamente grande, mesmo estando apenas acima da média dos últimos 10 anos, que é de 300 milhões de caixas. Em outras palavras, a tendência de médio prazo é de queda gradual na produção, influenciada por fatores como redução das chuvas, disseminação do greening e elevação dos custos de produção.

O clima favorável no final de 2024 e nos primeiros meses de 2025 foi determinante para a formação e desenvolvimento dos frutos da safra 2025/26. Segundo o Fundecitrus, o número médio de frutos por árvore nesta safra é de 617, comparado a 453 na safra anterior. Na reestimativa divulgada em setembro, o Fundecitrus reduziu a projeção inicial de 315 milhões de caixas em 2,5%, principalmente devido à menor produtividade das variedades precoces. Queda de 4,7% para Hamlin, Westin e Rubi, e 9,4% para as demais variedades precoces.

O RaboResearch estima a produção brasileira de suco de laranja em 993 mil toneladas equivalentes de FCOJ para o ano safra 2025/26, frente a 767 mil toneladas em 2024/25. Essa estimativa representa uma recuperação de 29%, situando-se ligeiramente acima da média dos últimos 10 anos, de 973 mil toneladas equivalentes. Certamente, o mercado não esperava uma recuperação dessa magnitude no início de 2025, o que contribuiu para o rápido movimento de reprecificação do suco de laranja no mercado global.

Após máximas históricas em 2024 e início de 2025, superando USD 5/lp, os futuros de FCOJ no ICE recuaram rapidamente no primeiro trimestre do ano, chegando a USD 2,11/lp em abril. Os preços físicos do FCOJ também sofreram forte queda, passando de USD 7.000/tonelada para cerca de USD 3.500/tonelada no mesmo período. Já os preços do NFC seguiram tendência semelhante mas com queda menor: após alcançarem USD 1.500/tonelada no final de 2024, recuaram para valores abaixo de USD 1.000/tonelada na metade de 2025, sendo atualmente negociados em torno de USD 900/tonelada na Europa.

Além do Brasil, o México também deve crescer 20% na produção em 2025/26. Após uma queda significativa em 2024/25, quando produziu apenas 115 mil toneladas, o México deve produzir 140 mil toneladas na safra 2025/26. Já na Flórida, espera-se mais uma safra bastante reduzida, com apenas 60 mil toneladas equivalentes de FCOJ em 2025/26. Considerando a recuperação da safra brasileira e a contribuição dos demais produtores relevantes, a oferta global deve retornar ao patamar observado entre 2021/22 e 2023/24, próximo de 1,3 milhão de toneladas equivalentes de FCOJ.

Com relação ao preço da fruta no Brasil, o ajuste também foi significativo. Embora a indústria ainda opere com estoques mínimos e busque processar o máximo de fruta disponível, o tamanho da safra 2025/26 reestabeleceu o equilíbrio de poder de negociação entre produtores e indústria. Como resultado, os preços spot da laranja para indústria (Cepea) recuaram para BRL 50/caixa no quarto trimestre de 2025, após atingirem a máxima histórica de BRL 92/caixa em outubro de 2024. De qualquer forma, boa parte dessa queda nos preços deve ser compensada pela elevada produtividade da safra 2025/26, e os produtores de maior escala continuam investindo, tanto em São Paulo quanto em estados vizinhos.

Segundo estimativas do RaboResearch, a área plantada com laranja nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná totalizou 83.800 hectares na safra 2024/25, o equivalente a 20% da área plantada em São Paulo, que foi de 365 mil hectares no mesmo período. Os produtores continuam investindo em novas áreas nesses estados vizinhos, buscando regiões com baixa incidência de greening, topografia e clima favoráveis, além de disponibilidade de água, mão de obra e energia.

Na projeção do RaboResearch, a área plantada nesses estados deve crescer para 118 mil hectares até a safra 2028/29. Considerando uma leve queda projetada na área plantada em São Paulo, para 340 mil hectares, reflexo do avanço do greening e da saída de produtores menores, os estados vizinhos poderão representar cerca de 35% da área paulista em 2028/29. Dessa forma, a produção fora de São Paulo pode se tornar cada vez mais relevante para sustentar a oferta de laranja à indústria paulista.

O greening, embora ainda seja um grande obstáculo, apresentou desaceleração no ritmo de avanço segundo o último relatório do Fundecitrus para a safra 2025/26. A incidência estimada da doença é de 50,6% das árvores, comparada a 48,6% em 2024/25, um crescimento de 3,3%, inferior ao aumento de 6,3% registrado entre 2023 e 2024. Por outro lado, a severidade média da doença subiu de 18,9% em 2024 para 22,7% em 2025.

No que diz respeito à demanda global, a dinâmica de preços elevados combinada com queda nos volumes persiste. Nos Estados Unidos, as vendas de suco de laranja em volume devem cair cerca de 8% em 2025/26 em comparação com 2024/25. Apesar da queda nos preços do FCOJ nos mercados futuros e físico, os preços do suco de laranja no varejo norte-americano não têm apresentado recuo. Dados da AC Nielsen, publicados pela Florida Citrus, indicam preços médios de USD 11,75 por galão em setembro de 2025, 20% acima do mesmo mês em 2024 (USD 9,75/galão) e 18% acima do nível de janeiro de 2025 (USD 10/galão). Com isso, as vendas em dólares mostram leve crescimento em 2025 em relação a 2024.

De forma semelhante, na Europa, a manutenção de preços elevados deve resultar em uma queda de 8% no consumo durante a safra 2025/26. Por enquanto a indústria de bebidas não tem dado sinais claros de corte de preços no varejo, o que será necessário para poder ter uma recuperação nos volumes.

A recuperação dos estoques ao final da safra 2025/26 será um fator relevante. Considerando as expectativas de produção e consumo, o balanço entre oferta e demanda pode fechar com um superávit global de 250 mil toneladas de FCOJ em 2025/26. Essa recomposição dos estoques na safra atual deve continuar pressionando os preços do suco. A atenção do mercado agora se volta para o clima no Brasil e para os primeiros sinais da safra 2026/27, que ajudarão a entender se a recuperação dos estoques poderá se estender por mais um ciclo.

Pontos de Atenção:

    A chegada do fenômeno La Niña no final de 2025 pode trazer chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas no estado de São Paulo durante o quarto trimestre de 2025 e o início de 2026. Esse cenário climático representa um sinal de alerta para o desenvolvimento da safra 2026/27.

    O consumo de NFC deve continuar demonstrando maior resiliência no mercado global ao longo da safra 2025/26, impulsionado por uma maior disponibilidade e melhoria na qualidade do produto, fatores que contribuem para a sustentação das vendas da categoria.

Oferta global de suco de laranja

Fig 41
Fonte: USDA, CitrusBr, Rabobank

Demanda global de suco de laranja

Fig 42
Fonte: USDA, CitrusBr, Rabobank

Balanço global oferta/demanda

Fig 43
Fonte: USDA, CitrusBr, Rabobank

Estoques de FCOJ da indústria brasileira

Fig 44
Fonte: USDA, CitrusBr, Rabobank

Disclaimer

As informações e opiniões contidas neste documento são meramente indicativas e apenas para fins de discussão. Quaisquer transações descritas e/ou ideias comerciais contidas neste documento não poderão resultar em nenhum direito. Este documento é apenas para fins informativos e não constitui, nem deve ser interpretado como, uma oferta, convite ou recomendação. Ver mais