Pesquisa

Milho - Perspectivas 2026

17 outubro 2025 18:02 RaboResearch

A rentabilidade observada em 2025 tem incentivado os produtores a ampliar a área destinada ao milho na safra 2025/26. O RaboResearch projeta um aumento de 2,2% na área total cultivada, refletindo a atratividade do cereal frente a outras culturas. Considerando a tendência de produtividade, a produção total deverá atingir 137 milhões de toneladas, sendo 27 milhões de toneladas da safra de verão e 110 milhões de toneladas do milho safrinha. Apesar da expansão da área, a produção projetada representa uma redução de 5 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior. No cenário internacional, os Estados Unidos, maior produtor e exportador global, devem colher uma safra recorde estimada em 427 milhões de toneladas, o que permitirá uma recomposição significativa dos estoques.

Intro

Mercado interno de milho ganha protagonismo

Assim como ocorreu com a soja, a safra brasileira de milho 2024/25 foi marcada por um recorde de produção. Segundo o RaboResearch, a produção total atingiu 142 milhões de toneladas, um crescimento de 22% em relação à safra anterior. Esse desempenho foi impulsionado pela expansão da área cultivada e pelas condições climáticas favoráveis, com destaque para as chuvas de abril de 2025, decisivas para o bom desempenho do milho safrinha.

A demanda interna, no entanto, apresentou uma dinâmica distinta da observada no mercado de soja. O setor de proteína animal, especialmente as cadeias de frango e suínos, registrou um aumento de 2,5% no consumo de milho para ração, o que representa cerca de 2 milhões de toneladas adicionais. Ainda mais expressivo foi o avanço do uso de milho na produção de etanol, cuja demanda deve ultrapassar 23 milhões de toneladas, um crescimento de 18% frente à safra anterior. Esse movimento reforça a crescente relevância do setor de bioenergia como vetor de sustentação da demanda doméstica.

Essa conjuntura alterou significativamente a formação de preços no mercado interno. Com a forte competição entre os setores consumidores, especialmente o de etanol, os preços pagos no mercado doméstico superaram a paridade de exportação, evidenciando uma mudança estrutural: o consumo interno passou a exercer maior influência sobre os preços do milho no Brasil.

Além disso, o câmbio teve papel relevante na dinâmica de preços e na competitividade externa. A valorização do real frente ao dólar observada durante o primeiro semestre de 2025 impulsionou os preços em Reais, que atingiram patamares recordes em Março-25, o maior nível dos últimos 30 meses. Este período marca a entressafra entre a safra verão de milho e a safrinha.

Mesmo com a oferta recorde observada em 2024/25, as exportações brasileiras devem totalizar 39 milhões de toneladas, apenas 500 mil toneladas acima do volume embarcado em 2023/24. No acumulado do ano, de acordo com a Secex, as exportações de milho estão 4% abaixo do mesmo período do ano anterior. A forte demanda interna, somada à competitividade do milho norte-americano, às limitações logísticas causadas pelo elevado ritmo de exportações de soja e à influência cambial, reduziram o apetite dos importadores pelo milho brasileiro. Esse cenário contribuiu para uma valorização em comparação ao ano passado. Em 2025, os preços do milho em Mato Grosso registraram uma alta de 19% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Apesar da firmeza dos preços, os estoques de passagem devem apresentar crescimento, a fim de garantir o abastecimento interno durante o primeiro semestre de 2026, período em que a oferta do cereal é sazonalmente mais restrita.

A rentabilidade observada em 2025 tem incentivado os produtores a ampliar a área destinada ao milho na safra 2025/26. O RaboResearch projeta um aumento de 2,2% na área total cultivada, refletindo a atratividade do cereal frente a outras culturas. Considerando a tendência de produtividade, a produção total deverá atingir 137 milhões de toneladas, sendo 27 milhões de toneladas da safra de verão e 110 milhões de toneladas do milho safrinha.

Apesar da expansão da área, a produção projetada representa uma redução de 5 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior, resultado da base comparativa elevada: em 2024/25, diversas regiões produtoras de milho safrinha registraram produtividades excepcionais, difíceis de serem repetidas.

Enquanto a produção tende a se ajustar, a demanda interna deve seguir em expansão. O consumo para ração animal deve crescer 2%, sustentado pelas boas margens esperadas nos setores de aves e suínos, totalizando 69 milhões de toneladas. Estes dois setores, que são responsáveis por 75% do consumo de milho, continuarão favorecendo a demanda de milho no Brasil em 2026.

Já o consumo para etanol de milho deve alcançar 28 milhões de toneladas, impulsionado pela expansão da capacidade instalada prevista para 2026. Os principais novos projetos estão localizados na região Centro-Oeste, principalmente nos estados de Mato Grosso e Goiás. Com isso, por mais um ano, a demanda local alcançará um novo recorde.

No cenário internacional, os Estados Unidos, maior produtor e exportador global, devem colher uma safra recorde estimada em 427 milhões de toneladas, o que permitirá uma recomposição significativa dos estoques. De acordo, com as inspeções norte-americanas, as exportações de milho durante este início de safra 2025/26 estão 75% acima do mesmo período do ano passado.

De acordo com o último relatório do USDA, é esperado que os estoques ultrapassem 53 milhões de toneladas, um acréscimo de 60% em comparação à safra anterior. Esta conjuntura pressionou a CBOT, que apresentou uma queda de 5% nos últimos 12 meses para o contrato com vencimento em dezembro de 2025.

A Argentina, outro grande exportador de milho, também deverá ampliar sua área destinada ao cereal. Segundo a Bolsa de Comercio de Rosario, a área plantada de milho deverá apresentar um incremento de 16% para a temporada 2025/26

Enquanto seus principais concorrentes ganham relevância no mercado externo pelo aumento da oferta, direcionando os fundamentos para preços menores, o Brasil se torna uma exceção, sustentado pela robustez do mercado interno.

Diante desse contexto, o RaboResearch projeta que as exportações brasileiras em 2026 fiquem ligeiramente abaixo das de 2025, totalizando 37 milhões de toneladas. Segundo o IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a comercialização da safra 2025/26 no Mato Grosso está em 21%, apenas 4 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos, mas 8 pontos acima do mesmo período do ano anterior, sinalizando uma postura mais ativa por parte dos produtores, diante das condições de mercado favoráveis.

No âmbito global, espera-se uma manutenção dos estoques globais de milho, bem como da relação estoque/consumo. Além disso, é importante destacar que grandes exportadores, como Estados Unidos e Argentina, deverão ser altamente competitivos em comparação com o Brasil nas exportações do cereal.

Pontos de Atenção:

    A recente paralisação do governo dos Estados Unidos, conhecida como shutdown, levou à suspensão temporária da divulgação de dados oficiais pelo USDA, criando um cenário de maior incerteza para o mercado de milho.

    Nos Estados Unidos, apesar da projeção de uma safra recorde, a seca no final da temporada, somada a relatos de ferrugem do sul e possíveis falhas na formação das espigas, pode introduzir um viés negativo nas estimativas para a produção norte-americana.

Oferta/demanda global de milho

Fig 21
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, DERAL, IBGE, Cargonave, Bloomberg, Rabobank

Produção de milho no Brasil

Fig 22
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, DERAL, IBGE, Cargonave, Bloomberg, Rabobank

Consumo interno e exportações brasileiras de milho

Fig 23
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, DERAL, IBGE, Cargonave, Bloomberg, Rabobank

Preço de milho em Campinas vs. CBOT

Fig 24
Fonte: USDA, IMEA, CONAB, DERAL, IBGE, Cargonave, Bloomberg, Rabobank

Disclaimer

As informações e opiniões contidas neste documento são meramente indicativas e apenas para fins de discussão. Quaisquer transações descritas e/ou ideias comerciais contidas neste documento não poderão resultar em nenhum direito. Este documento é apenas para fins informativos e não constitui, nem deve ser interpretado como, uma oferta, convite ou recomendação. Ver mais