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Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026Pesquisa
Café - Perspectivas 2026
O Rabobank revisou a estimativa de demanda brasileira de café em 2024/25 (julho a junho), de 21,8 para 21,4 milhões de sacas, uma queda de 0,9% em relação ao ciclo anterior. Para 2025/26, espera-se um crescimento de 1,2%, totalizando 21,7 milhões de sacas. As exportações brasileiras de café para o ciclo 2025/26 (julho a junho) são projetadas entre 39 e 41 milhões de sacas. Esta desaceleração reflete as frustrações nas últimas colheitas e a redução nos estoques de passagem. Entre o final de 2025 e o início de 2026, os preços do café devem permanecer voláteis, influenciados pelo atual contexto geopolítico, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos e o regulamento europeu (EUDR), além dos estoques mais baixos. No entanto, a expectativa de recuperação da oferta global pode exercer pressão sobre os preços.

Tarifas, EUDR e estoques: o tripé da volatilidade no café
O mercado global de café em 2025 foi novamente marcado por forte volatilidade. Em Nova Iorque, o café arábica oscilou de USD 4,38/lp em fevereiro para USD 2,80 em julho, voltando a operar acima de USD 3,80/lp em outubro. Em Londres, o café robusta seguiu trajetória semelhante: após atingir USD 5.817/ton em fevereiro, recuou para USD 3.345/ton em julho e atualmente gira em torno de USD 4.500/ton. Essa dinâmica se refletiu diretamente nos preços internos no Brasil. Apesar da volatilidade em ambos os tipos, o robusta apresenta tendência de queda mais clara. Entre janeiro e outubro, os preços médios mensais caíram 14% em Londres e 29% no Brasil. Já o arábica subiu 17% em Nova Iorque, enquanto recuou 4% no mercado brasileiro.
Em linhas gerais, a sustentação dos preços ainda em níveis elevados foi impulsionada pelos baixos estoques globais, reflexo de quebras de safra em regiões produtoras relevantes. No entanto, fatores geopolíticos recentes, como a tarifa dos EUA e a regulamentação antidesmatamento da união europeia (EUDR), ampliaram a volatilidade do mercado.
No dia 6 de agosto, os EUA impuseram tarifa de 50% sobre o café brasileiro. A medida afeta cerca de 18% das exportações brasileiras e um terço das importações americanas de café. Com a medida a competitividade do Brasil foi reduzida, favorecendo origens como Colômbia, Etiópia, Vietnã e América Central. Entre agosto e setembro, as exportações brasileiras para os EUA caíram cerca de 50% em relação ao mesmo período de 2024. No curto prazo, espera-se que a indústria americana consuma estoques antes de retomar compras, o que já está reconfigurarando os fluxos globais. Como estratégia para mitigar os impactos da tarifa, alternativas como o uso de armazéns alfandegados, que permitem armazenar o café sem o pagamento imediato do imposto, têm ganhado relevância.
Embora o repasse dos custos ao consumidor americano deva ocorrer gradualmente, aumentos de preços são esperados. O Brasil busca diversificar mercados, mas persiste a dúvida: caso a situação se prolongue, como recuperar o espaço perdido quando a oferta se normalizar ou houver renegociação das tarifas? Autoridades brasileiras e americanas já se reuniram para tratar do tema, mas ainda sem uma solução definida.
A implementação da EUDR segue no radar. Em 2024 e novamente em 2025, a União Europeia antecipou importações de café para evitar entraves de conformidade. Apesar de considerar adiar a norma para o fim de 2026, devido a dificuldades técnicas com sistemas de rastreabilidade, a Comissão Europeia deve manter o cronograma para o final deste ano, com ajustes relevantes. Grandes empresas e operadores terão até 30 de junho de 2026 para se adequar sem penalidades, contando com um processo documental mais simples e menos exigente. A medida pode acelerar compras e importações ainda em 2025, adicionando volatilidade ao mercado. No entanto, a proposta ainda precisa ser votada e aprovada.
Com a colheita 2025/26 concluída, o Rabobank projeta a produção brasileira de café em 62,8 milhões de sacas (60kg). A produção de arábica deve cair 14% na comparação anual, em 38,1 milhões de sacas, impactada pelo ciclo bienal negativo e pelas condições climáticas quentes e secas nas principais regiões produtoras. Já o robusta (conilon) deve atingir um recorde de 24,7 milhões de sacas, alta de 10% ano a ano. Para a safra 2026/27, ainda há incertezas quanto ao potencial produtivo, especialmente para o arábica. O inverno trouxe episódios de geadas e chuvas de pedra, com destaque para o Cerrado Mineiro, além de chuvas irregulares em setembro e outubro, que afetaram as floradas e o pegamento dos frutos.
Estes fatores afastam a expectativa de uma grande safra, embora ainda esperemos crescimento frente à safra atual. No caso do robusta, novas áreas em produção devem compensar o aumento de podas em lavouras mais velhas, sustentando uma expectativa de um leve aumento na produção. Nosso Crop Tour começa em novembro por Rondônia, com visitas às demais regiões entre fevereiro e março, quando será divulgada a estimativa oficial de safra.
Apesar da recuperação recente, as exportações brasileiras seguem em ritmo inferior ao de 2024. Projetamos embarques totais em 2025 de cerca de 42 milhões de sacas. Para o ano safra 2025/26 (jul-jun), estimamos exportações entre 39 e 41 milhões de sacas, refletindo a frustração da colheita e expectativa de estoques de passagem mais baixos.
A demanda interna de café também enfrenta desafios. Segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), os preços no varejo subiram 64% em setembro, na comparação anual, para BRL 63,25/kg, pressionando o consumo. Entre janeiro e agosto, as vendas no varejo caíram 5,4% frente ao mesmo período de 2024. Embora o consumo fora do lar atenue parcialmente essa queda, revisamos nossas projeções: para o ciclo 2024/25, estimamos retração de 0,9%, totalizando 21,4 milhões de sacas. Para 2025/26, projetamos crescimento de 1,2%, alcançando 21,7 milhões de sacas, impulsionado por uma melhora nos preços ao consumidor e nas condições macroeconômicas.
De maneira geral, os preços elevados favorecem produtores com café disponível ou interessados em hedge, mas a volatilidade tem dificultado a operação de exportadores, importadores e torrefadores. Com estoques reduzidos, o timing da compra é crucial: quem adquire café em alta enfrenta dificuldades para repassar o custo ao consumidor (ou precisa diminuir suas margens), especialmente se concorrentes compraram em momentos mais favoráveis.
No curto prazo, a queda nos estoques certificados em Nova Iorque, somada aos efeitos das tarifas americanas e incertezas sobre a implementação da EUDR, deve seguir como fonte de volatilidade. Desde o anúncio das tarifas, em 9 de julho, os estoques certificados recuaram cerca de 386 mil sacas, uma queda de 46%, e, diante do cenário atual, espera-se que essa tendência persista. A expectativa de estoques de passagem mais baixos no Brasil também contribui para esse ambiente, ao menos até que haja maior clareza sobre o potencial da próxima safra 2026/27 brasileira.
Por outro lado, ao longo de 2026, o aumento da disponibilidade de oferta em outras origens aliado aos efeitos prolongados das tarifas e dos preços elevados que seguem limitando o consumo, podem exercer pressão sobre os preços. Após quatro anos de aperto, o Rabobank projeta um alívio no balanço global de 3,3 milhões em 2025/26 (out-set). Será essencial monitorar as condições climáticas nos próximos meses, com foco na produção do ciclo 2026/27. Ao final de 2026, o Rabobank projeta os preços do café arábica entre USD 3,10 e 3,55/lp.
Pontos de Atenção:
O clima no Brasil segue como ponto crítico para a safra 2026/27. Geadas, granizo e chuvas irregulares até outubro levantam preocupações sobre o potencial produtivo, especialmente no Cerrado Mineiro, região mais afetada até o momento. A regularização das chuvas nas próximas semanas será essencial.
No campo geopolítico, as tarifas americanas continuam no radar. Apesar de diálogos entre autoridades brasileiras e americanas, ainda não há solução. Além disso, a possível imposição de novas tarifas à Colômbia adiciona nova ameaça ao abastecimento global. Qualquer renegociação ou nova medida pode impactar diretamente os preços.
Preços de café

Exportações brasileiras de café

Consumo brasileiro de café

Balanço global de café

Baixe o relatório em PDF: Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026












