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Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026Pesquisa
Leite - Perspectivas 2026
A produção brasileira de leite deve apresentar crescimento moderado em 2026, influenciada por preços ao produtor ligeiramente menores no início do ano e por uma base de comparação elevada, devido ao forte crescimento registrado em 2025. Do lado da demanda, o cenário tende a permanecer moderadamente positivo, impulsionado pelo início de um ciclo de corte de juros, gastos públicos elevados e manutenção do desemprego em patamares baixos. Esses fatores devem contribuir para sustentar o consumo de lácteos ao longo do ano.

Custos sob controle devem levar a nova alta na produção
O ano de 2025 deixou boas lembranças para o produtor de leite. A produção primária acelerou o ritmo de crescimento no primeiro semestre, impulsionada por custos da alimentação sob controle, rentabilidade positiva e um clima menos volátil. Diferentemente de anos recentes, houve menos problemas climáticos, como enchentes e secas extremas, o que facilitou o trabalho do produtor. A expectativa é de que o ano se encerre com alta na produção de leite próxima de 6,8% em relação a 2024.
No que diz respeito à demanda do consumidor final, mesmo com uma inflação semelhante à do ano anterior (IPCA de 4,6%), houve estabilidade ou leve crescimento na maioria das categorias de produtos lácteos. Esse desempenho foi favorecido por fatores como o baixo desemprego, programas de transferência de renda do governo e crescimento econômico próximo de 2% do PIB.
A primeira metade do ano foi marcada por uma produção no campo significativamente acima do esperado. Após uma alta de 3,1% no primeiro trimestre, o segundo trimestre registrou avanço de 9,3% em comparação com o mesmo período de 2024 — o maior ritmo de crescimento dos últimos dez anos. Embora a base de comparação fosse baixa, devido à queda de produção causada pelas grandes enchentes na região Sul em 2024, os dados surpreenderam positivamente.
Os preços ao produtor começaram 2025 em patamares historicamente elevados (BRL 2,65/litro) e apresentaram menor volatilidade em relação aos anos anteriores. Nos primeiros nove meses do ano, a volatilidade dos preços foi 50% menor do que a média dos últimos seis anos, conforme medido pelo desvio padrão. É provável que o ano termine com preços inferiores aos observados no final de 2024, reflexo do aumento na produção e da ausência de estiagens prolongadas no segundo semestre.
Como consequência da menor volatilidade nos preços do leite e da tendência de estabilidade ou queda moderada nos custos dos grãos, a rentabilidade do produtor também apresentou menor oscilação em comparação com os últimos anos. Segundo dados do MilkPoint Mercado, o indicador de receita menos o custo de alimentação tem se mantido acima de BRL 30 por vaca/dia ao longo dos últimos 18 meses (desde março de 2024), e a expectativa é que permaneça em níveis semelhantes até o final de 2025.
Com isso, a produção de leite no Brasil deve encerrar o quarto trimestre com crescimento próximo de 4%, o que, somado às altas expressivas do segundo e terceiro trimestres, deve resultar em um avanço total estimado de 6,8% em volume para o ano de 2025, em comparação com 2024.
No mercado internacional, as importações brasileiras devem terminar o ano em níveis levemente inferiores aos de 2024, mas ainda relativamente elevados, próximos de 250 mil toneladas. A valorização do real e os preços internacionais um pouco mais baixos sustentaram o fluxo de importações do Mercosul, mesmo diante do forte crescimento da produção nacional ao longo do ano.
O movimento de expansão entre os grandes produtores segue firme no setor lácteo. Aqueles com produção superior a 5 mil litros/dia já representam 28% do total produzido no país e devem continuar ampliando sua participação. Fatores como os custos com mão de obra e o aumento da rentabilidade proporcionado pela maior escala têm sido fundamentais para impulsionar a consolidação do setor primário no Brasil.
Olhando para 2026, o mercado internacional pode enfrentar novas quedas de preços no primeiro semestre. O RaboResearch projeta que a oferta global continuará em tendência de alta no final de 2025 e no primeiro semestre de 2026. No segundo semestre de 2025, a produção de leite nas sete principais regiões exportadoras deve crescer 1,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, antes de desacelerar para 1,1% em 2026.
Esse aumento será impulsionado pela melhora nas margens dos produtores globais, pela recuperação dos surtos de doenças registrados nos EUA e na Europa. A ausência de condições climáticas adversas extremas, na maioria das regiões ao longo de 2025, permitiu aos produtores recuperarem margens e preparar o rebanho para o ciclo atual de alta na produção. Na Europa e na Oceania, os preços pagos ao produtor estão próximos de níveis recordes no final de 2025, enquanto os custos com alimentação do gado devem permanecer favoráveis até 2026.
No Mercosul, a Argentina e o Uruguai tendem a apresentar uma desaceleração no crescimento da produção em 2026, devido a margens mais apertadas. Porém, o consumo interno na Argentina não deve crescer significativamente, sustentando o potencial exportador do país vizinho. No Brasil, a combinação de preços internacionais um pouco mais baixos e oferta local crescente pode resultar em uma nova queda nas importações de lácteos em 2026, em comparação com os níveis de 2025.
Para o preço pago ao produtor no Brasil, espera-se que 2026 comece em um patamar inferior ao de 2025, com possibilidade de novas quedas no quarto trimestre deste ano. Apesar do custo moderado dos grãos, os preços do leite mais baixos devem limitar o potencial de expansão das margens do produtor no primeiro semestre. O comportamento dos preços ao longo do ano dependerá dos fatores de oferta e demanda, podendo apresentar maior volatilidade em comparação com 2025, que foi um ano atípico de baixa volatilidade de preços.
Ainda assim, a produção nacional de leite deve crescer ao longo de 2026, provavelmente em ritmo mais modesto do que no ano anterior. Margens ligeiramente menores e uma base de comparação elevada levam o RaboResearch a projetar um aumento da oferta próximo de 2,5% em 2026, em comparação com 6,8% em 2025.
Com relação à demanda local, alguns fatores indicam a continuidade de um cenário moderadamente positivo para o consumo de lácteos e alimentos em geral. O início de um ciclo de corte de juros parece altamente provável em 2026, o que, somado ao elevado gasto público, poderá sustentar um crescimento positivo da economia brasileira. Mesmo com a inflação ainda elevada e acima da meta, o desemprego deve permanecer baixo. Espera-se que a continuidade do ciclo de crescimento econômico mantenha o nível de desemprego em patamares reduzidos, o que deve sustentar o consumo e permitir ganhos adicionais em volume.
Pontos de Atenção:
Aumentos nos programas de transferência de renda e baixo desemprego devem continuar limitando a disponibilidade de mão de obra no campo em 2026.
Seguindo a tendência global, os produtores de leite brasileiros devem aumentar a produção de bezerros cruzados com sêmen de touros de corte, como fonte adicional de receita.
Preços internacionais (GDT)

Preço ao produtor líquido (R$/litro)

Rentabilidade estimada do produtor

Balança comercial brasileira de lácteos

Baixe o relatório em PDF: Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026












