Índice
Este artigo faz parte de:
Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026Pesquisa
Macroeconomia - Perspectivas 2026
A economia brasileira desacelera devido aos efeitos defasados da política monetária restritiva, apesar do efeito parcialmente mitigador de políticas fiscais contracíclicas. Medidas de inflação corrente e prospectiva já ensaiam moderação, mas o Copom aguarda sinais mais claros para dar início ao próximo ciclo de cortes de juros. Assim, o real brasileiro não poderá continuar a contar com a ajuda do diferencial de juros, passando a refletir cada vez mais incertezas sobre a fragilidade fiscal e os destinos da corrida eleitoral. A conjuntura global continuará desafiadora. Além das tensões geopolíticas, as incertezas comerciais pesarão sobre o crescimento da economia dos EUA e da China. Com isso, cortes de juros pelo Fed podem enfraquecer o dólar no curto prazo, enquanto uma recessão global permanecer longe do radar. Portanto, trata-se de um cenário desafiador para a demanda global e o mercado de commodities.

Corrida eleitoral e incertezas fiscais além do externo
A economia dos EUA ainda demonstra resiliência, impulsionada por consumo robusto e investimentos dinâmicos, mas está a caminho de um enfraquecimento provocado pelas incertezas tarifárias. O mercado de trabalho já dá sinais de atenuação, com desaceleração nas contratações. Contudo, a inflação permanece elevada, com núcleos acima da meta, sendo que o efeito das tarifas pode vir a ser mais nítido só em 2026. Neste cenário, o Fed adota postura cautelosa antes de dar prosseguimento ao ciclo de cortes de juros. O Rabobank prevê um corte de 25 p.b. (pontos-base) na reunião de outubro de 2025 e o atingimento de uma taxa terminal em 3,00% já em 2026. Da mesma forma, a economia chinesa também enfrenta desafios com exportações sofrendo menor demanda global e consumo doméstico perdendo impulso. O governo planeja mais estímulos fiscais e monetários, além de novo plano quinquenal para fortalecer a confiança e sustentar o crescimento. No curto prazo, o dólar pode até vir a depreciar frente a pares enquanto não houver recessão global.
No front doméstico, a economia brasileira começa a revelar os efeitos defasados da política monetária restritiva, com setores cíclicos mostrando sinais mais nítidos de desaceleração. O PIB do segundo trimestre de 2025 registrou tímido crescimento, e as expectativas para o segundo semestre indicam estagnação, refletindo o ritmo mais lento da economia na margem. Assim, o mercado de crédito enfrenta dificuldades, especialmente nas concessões de crédito consignado. Exogenamente, o pagamento de precatórios no segundo semestre de 2025 pode oferecer alívio pontual ao consumo das famílias, ajudando o PIB a crescer 2,0% em 2025. Para 2026, a nossa projeção de crescimento do PIB é de 1,6%, impulsionada pela reforma do Imposto de Renda que amplia a faixa de isenção e a reativação da economia, especialmente no segundo semestre. Medidas fiscais contracíclicas podem ajudar a mitigar a desaceleração ao longo do ano. No mercado de trabalho, há resiliência, mas sinais de arrefecimento são evidentes na criação de empregos e na taxa de desemprego, que permanece estável, indicando uma possível mudança de tendência.
A rejeição da MP 1.303 pela Câmara dos Deputados, que visava substituir o aumento do IOF por novas fontes de arrecadação, gerou um impacto fiscal significativo, estimado em R$ 46,5 bilhões até 2026. Com a perda de receita e despesas não contingenciadas, o governo considera buscar alternativas para recompor o orçamento. Para 2025, a projeção é de que o governo cumpra a meta fiscal no limite inferior, com um resultado primário de -0,6% do PIB. Em 2026, espera-se um resultado primário de -1,0% do PIB, longe da meta de superávit de 0,25%, e o cumprimento da meta inferior de -0,4% do PIB depende de receitas extraordinárias. O principal risco reside na possível flexibilização das regras fiscais, que pode comprometer a consolidação fiscal ao permitir maior expansão das despesas primárias e novas renúncias de receita. Prevemos que a relação entre a dívida bruta e o PIB será de 81,4% em 2025, aumentando para 83,6% em 2026.
O cenário inflacionário no Brasil começa a dar sinais de moderação, mas ainda enfrenta desafios significativos, com núcleos de inflação acima da meta e expectativas desancoradas. A apreciação do real em 2025 tem contribuído para aliviar as pressões sobre alimentos e combustíveis, promovendo uma desinflação gradual. A queda nos preços do atacado também tem ajudado a reduzir a inflação ao consumidor em alimentos e bens industriais. No entanto, a inflação de serviços ainda demanda atenção, sendo impulsionada por mercado de trabalho aquecido e aumento da renda real.
Os preços administrados se beneficiam de queda no preço do petróleo, mantendo o preço da gasolina estável, mas a inflação de energia elétrica permanece pressionada. Para 2025 e 2026, o cenário inflacionário continua incerto, com riscos simétricos, incluindo tensões comerciais e geopolíticas. A desaceleração econômica tenderá a moderar a inflação de serviços em algum momento, mas estímulos fiscais podem sustentar o mercado de trabalho, agindo em direção oposta. Vemos a inflação do IPCA em 4,6% em 2025 e mantemos nossa previsão em 4,2% em 2026.
O Banco Central (BCB) reafirmou seu compromisso com a convergência da inflação à meta, mantendo a taxa Selic em patamar elevado. As projeções de inflação seguem acima da meta para além do horizonte relevante de política monetária (1T27). Em comunicado recente, a autoridade monetária destacou que a atividade econômica doméstica está desacelerando conforme o esperado, refletindo os efeitos defasados da política monetária e sem desvios significativos causados por estímulos fiscais ou creditícios. Os dados do PIB do 2T25 e os indicadores de atividade do 3T25 apontam para uma desaceleração gradual, especialmente nos setores mais sensíveis ao ciclo econômico, embora o mercado de trabalho mantenha relativa resiliência. O Copom revisou para cima o hiato do produto, enquanto o impacto da reforma do IR ainda não foi incorporado aos modelos. As expectativas de inflação continuam acima da meta, ainda que tenham iniciado processo de convergência em horizontes mais longos.
Externamente, incertezas sobre os EUA e tensões geopolíticas afetam os preços de commodities. Internamente, a desaceleração da atividade e da inflação contribui para a queda das expectativas. O Copom parece disposto a manter juros reais elevados até se mostrar mais satisfeito com convergência das expectativas à meta e iniciar ciclo de relaxamento monetário. Cremos que cortes na Selic podem começar só no 2T26 e chegar a 12,50% em 2026.
Em 2025, o real apreciou-se 12,75% em relação ao dólar. Aliás, o último depreciou-se 8,80% em relação a moedas pares de países avançados, o que revela que grande parte da apreciação do real frente ao dólar seja de causa externa. Ainda assim, o real também se beneficiou com o carry trade, possibilitado pelo diferencial entre juros domésticos restritivos e juros internacionais em queda. Tal apreciação do real em 2025 não só impediu aumento maior de exportações, mas também impulsionou aumento de importações. Com isso, o crescente déficit em conta corrente passou a não ser mais compensado por influxos de IDP, gerando preocupações quanto à sustentabilidade externa no curto prazo. Já 2026 trará cenário mais desafiador para o real. Externamente, o dólar não continuará a perder tanto valor frente aos pares e os cortes na Selic também diminuirão o diferencial de juros. Assim, o real poderá estar mais propenso a refletir incertezas quanto à estrutural fragilidade fiscal aliado à típica ansiedade associada a disputadas corridas eleitorais.
Pontos de Atenção:
Como vetores de apreciação do real brasileiro, estão a postura hawkish do BCB e a fragilidade da economia americana, enquanto a economia global ainda permanece resiliente.
Como vetor de depreciação do real brasileiro, vemos menores enfraquecimento global do dólar e diferencial de juros. Assim, o real ficaria mais sensível à estrutural fragilidade fiscal e à típica ansiedade com disputadas eleitorais.
PIB Anual

Inflação Anual

Taxa Selic

Câmbio

Baixe o relatório em PDF: Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026













